Enfermeira do Rio Grande do Sul conta rotina em hospital cheio de pacientes de Covid-19.
Por: Alex Albuquerque
Quando a enfermeira Ana Paula Lemos correu para a UTI de pacientes com Covid-19 para fazer uma transfusão, não estava preparada para a cena que iria presenciar. Ao lado do paciente que precisava de sangue, um homem de cerca de 60 anos implorava para ser intubado.
🤙Com falta de ar e dores, ele queria ser sedado, perder a consciência, deixar de sentir.
🤙O homem teve o pedido atendido e foi intubado, mas morreu poucos dias depois.
Lemos é coordenadora da área de transfusão de sangue do Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O Estado está próximo do colapso do sistema de saúde e acionou a fase mais crítica do plano de contingência ao coronavírus.
"Estamos com quase 100% da ocupação. Temos três UTIs. Uma é destinada só para pacientes com Covid-19. Ela está com lotação de praticamente 100% dos leitos. Temos outras duas UTIs que já atingiram lotação máxima", contou a enfermeira.
"Cirurgias eletivas foram todas suspensas. Estamos trabalhando com situações de urgência e emergência. A entrada de visita foi totalmente restrita. Os pacientes ficam sem acompanhantes para reduzir o fluxo de pessoas e só falam com a família por vídeo".
🤙Pior fase da 'guerra'
Lemos presenciou dezenas de pacientes morrerem desde o início da pandemia, inclusive alguns com os quais convivia havia meses ou anos, já que eram pessoas que precisavam de transfusões periódicas por outras condições de saúde.
"Trabalhamos com muitas pessoas em tratamento de câncer e tivemos muitas perdas de pacientes fixos que acabaram contraindo Covid. A gente se apega ao paciente. E chega outro dia e a gente diz: mais um a gente perdeu."
"Ninguém nos perguntou se a gente queria entrar na guerra ou não e a gente entrou. E essa é a fase mais difícil."
Segundo Lemos, comparado com o primeiro pico de casos no Rio Grande do Sul, o atual está provocando lotação mais acelerada de todas as unidades do hospital.
"Está pior em volume de internação e a velocidade de contágio parece estar maior. Nós já tivemos 100% de ocupação de UTI antes, mas as unidades de internação estavam mais vazias. Tínhamos como remanejar, agora não. E estamos no limite do estoque de sangue."
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