Personagens ganharam musculatura política e outros se enfraqueceram na esteira da crise política aberta com o motim dos policiais militares
Um dos tos do motim da Polícia Militar no Ceará foi político. Grande parte dos personagens diretamente envolvidos na crise, que se encerrou há uma semana, também estarão medindo forças nas eleições de outubro pela Prefeitura de Fortaleza: o deputado federal Capitão Wagner (Pros) contra o grupo que comanda o Paço e o Governo do Estado do Ceará.
Nesse embate franco que começou como reivindicação salarial e virou disputa pré-eleitoral, o governador Camilo Santana (PT) levou a melhor, aumentando capital para influenciar no processo de escolha do novo gestor da cidade, seja pelo seu partido, seja pelo PDT, com o nome indicado pela legenda.
Wagner, o desafiante, fez aposta alta ao se envolver pessoalmente na negociação em torno do reajuste dos soldados. Integrou a mesa formada por membros do Estado, secretários e líderes dos PMs. Comemorou o acordo com o Governo, anunciando-o como benéfico aos soldados nas redes sociais. Apenas para vê-lo recusado pelas tropas horas depois.
Cientista político, Clayton Monte avalia que esses 13 dias que sacudiram o Estado colocaram em cena não somente os protagonistas, mas também suas armas no xadrez eleitoral. "A crise antecipa não somente a eleição, mas também qual vai ser a estratégia dos possíveis candidatos", considera.
O pesquisador cita como exemplo uma declaração da deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins (PT). "Um dia depois do episódio de Sobral, Luizianne disse que Fortaleza não poderia ficar entre o autoritarismo e uma oligarquia", relembra. "Ou seja, tem discurso eleitoral pronto. Isso poderia perfeitamente ser um vídeo de campanha."
Segundo ele, trata-se de uma retórica que a potencial candidata deve explorar para marcar diferença tanto em relação a Wagner quanto ao postulante ungido pelos Ferreira Gomes, cuja representação aí cabe ao ex-governador Cid Gomes, atingido por disparos de arma de fogo ao avançar sobre um quartel pilotando uma retroescavadeira.
Questionado sobre as perdas de Wagner, Monte diz que o deputado federal sai arranhado da paralisação. "O pré-candidato vinha fazendo todo um trabalho interessante para mostrar que não é apenas um cara da área da segurança", explica, "e acabou entregando esse trunfo para os opositores, que agora podem dizer: ele é a mesma figura de 2011".
Uma referência à paralisação da PM que começou em dezembro de 2011 e se estendeu até 2012 e cujo principal resultado foi a projeção do militar, que se elegeria vereador naquele ano. De lá para cá, a trajetória de Wagner foi ascendente.
"Penso que a imagem dele foi prejudicada, principalmente porque está disputando o Executivo, cargo que requer moderação", continua. "Mas acho isso reversível. O deputado segue como adversário muito forte."
Mas há outros rostos que se fortaleceram. Um deles é o presidente da Assembleia Legislativa, deputado José Sarto (PDT).
Foi firme na condenação dos amotinados, chamando-os de bandidos. Outro é o titular da Casa Civil do Abolição, Élcio Batista, a quem coube a costura de acordo na AL que seria rechaçado pelos militares. Élcio foi atuante nos bastidores. Na gangorra de quem sobe e quem desce com vistas ao pleito que vai se aproximando, ambos ganharam envergadura.
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