Uma criança e dois jovens foram baleados por policiais militares enquanto saíam de um campo de futebol na noite de sexta-feira (9) em Hidrolândia, no interior do Ceará. De acordo com a família, um dos homens perdeu o olho direito, e o outro corre o risco de ficar paraplégico. Já o menino, de dez anos, está internado com a bala alojada no pescoço.
Devido ao tiro, o menino de 10 anos também fraturou a mandíbula. Ele permanece internado, em observação, à espera de cirurgia em um hospital de Fortaleza.
Uma parente de uma das vítimas (identidade preservada) e amiga das demais relatou que a irmã da criança – grávida de gêmeos -, o namorado dela e dois amigos do casal levaram o menino a um campo de futebol da cidade para estourar bombinhas de São João.
Quando estavam indo embora, já no carro, os cinco foram surpreendidos por disparos de arma de fogo efetuados por homens da Polícia Militar. No primeiro momento, contou a familiar, eles não perceberam que se tratava de uma equipe da PM, “porque a sirene da viatura estava desligada”.
Sobre o caso, a Polícia Militar informou que a composição foi acionada para atender uma ocorrência de disparos de arma de fogo efetuados por indivíduos que estariam em um carro escuro. Um veículo, com as mesmas características repassadas, foi localizado trafegando com os faróis desligados no bairro Nova Hidrolândia, de acordo com o relato da equipe.
Os policiais envolvidos no caso já foram afastados de suas funções. Neste domingo (11), o governador Camilo Santana afirmou que determinou “rigor absoluto na investigação, bem como à secretaria de Proteção Social apoio às vítimas”.
A OFENSIVA
O primeiro tiro atingiu o pescoço do garoto. “A irmã dele ficou aperreada, e todo mundo pensou logo em ir para o hospital”. Logo após, dois jovens – Pedro Henrique Peres Freitas, 21; e Raimundo Diogo de Siqueira Neto, 22 – também foram lesionados.
Raimundo Diogo, que trabalha como operador de caixa em uma lotérica, foi alvejado na coluna e no joelho. E Pedro Henrique, dono de um depósito de materiais de construção, foi ferido na cabeça e na coxa.
Segundo a parente, ele dirigia o carro e desceu do veículo para pedir ajuda aos policiais militares, que “foram arrogantes“. “Os militares o levaram ao hospital depois de ele ter dito que era filho de policial. O padrasto dele realmente é da PM”.
“Eles (PMs) mentiram na cara de pau, falando que houve tiroteio, sendo que não tinha nenhuma arma de fogo com eles (passageiros). Como ainda estamos no período de São João, as crianças sempre brincam disso por aqui. Não tinha mais nem como estourar (as bombinhas), porque elas já tinham acabado”.
CIRURGIAS
Pedro Henrique, Raimundo Diogo e o menino foram levados ao hospital do município, onde receberam os primeiros socorros até a chegada de uma ambulância que os levaram para um hospital localizado em Sobral, na Região Norte do Estado, na noite de sexta-feira (9).
Também conforme a familiar, Raimundo Diogo – alvejado na coluna e no joelho – foi submetido a uma cirurgia e agora amigos e familiares esperam notícias dos médicos para saber se ele voltará a andar, pois a equipe disse que há o risco de o jovem ficar paraplégico.
Pedro Henrique – ferido na cabeça e na coxa -, perdeu o olho direito depois da ofensiva. Ele fez a cirurgia no rosto e aguarda outra, no fêmur, fraturado no episódio. O homem ainda sofreu uma hemorragia cerebral.
Já o garoto foi transferido na tarde deste sábado (10) para um hospital de Fortaleza. O menino de dez anos permanece com a bala alojada no pescoço, pois essa parte do corpo continua inchada.
ORDEM DE PARADA OBRIGATÓRIA
Os policiais que estavam na ocorrência afirmaram que foi dada ordem de parada obrigatória, mas o condutor do veículo não teria obedecido. Diante disso, uma perseguição foi iniciada, e três ocupantes do carro foram atingidos por arma de fogo.
Também segundo a PM, os militares se apresentaram na Delegacia Regional de Canindé, onde o fato foi registrado pela Polícia Civil.
POLICIAIS MILITARES FORAM AFASTADOS
Eles foram ouvidos em termo de declaração pelo comando do Batalhão ao qual são subordinados e tiveram as armas de fogo recolhidas para envio a Perícia Forense.
“A Polícia Militar instaurou o Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os fatos. Os policiais militares foram afastados das funções operacionais até a elucidação do caso”, explicou a instituição”.