Segundo o Ipece, no fim do ano passado, a expectativa era de que o PIB do Estado subisse 2,5%. Resultado divulgado apontou ainda que índice recuou 0,64% no primeiro trimestre deste ano. Indústria é a mais impactada
Por: Alex Albuquerque
Assim como aconteceu com o Brasil, que teve a estimativa da produção de riquezas revista pelo Banco Central no boletim Focus, o Ceará também teve a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 reduzida mais uma vez. Pela terceira vez consecutiva, desde dezembro de 2018, o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) analisou e diminuiu a perspectiva de crescimento da economia cearense para este ano, que desde ontem pela manhã foi anunciado estar em 1,34%.
No fim do ano passado, em dezembro, a expectativa era de que o PIB do Estado evoluísse 2,5%, tendo sido revisto para 2% em março deste ano. Para a média nacional, o Ipece indica que a economia deverá ter alta de 1%, estando acima da previsão do Banco Central, que estima um crescimento de apenas 0,93% para o Brasil em 2019.
Durante apresentação em que foram divulgadas as estimativas do ano, ontem pela manhã, o Ipece também expôs que a economia cearense recuou 0,64% no primeiro trimestre de 2019, considerando a comparação com igual período do ano anterior. O desempenho negativo representa um resultado pior do que o da média nacional, uma vez que o Brasil registrou um encolhimento de 0,2% no PIB. Em outras bases de comparação, segundo o Ipece, o Estado também ficou abaixo do País.
No acumulado dos últimos quatro trimestres analisados no estudo, o Ceará apresentou um crescimento de 0,21%, enquanto o Brasil teve alta de 0,9%. Já na relação entre o primeiro trimestre de 2019 e o igual período de 2018, a evolução da economia cearense foi de 0,2%. Na mesma base de análise, a economia nacional cresceu 0,5%. Contudo, o Ipece alertou que os dados divulgados são preliminares e "podem sofrer alterações quando forem divulgados os números definitivos".
A queda da economia cearense no primeiro trimestre do ano - ante período imediatamente anterior (último trimestre de 2018) - se deu pelo recuo de todos os três setores no Estado, agropecuária (-0,83%), indústria (-0,80%) e serviços (-0,65%).
Resultado adverso
Na indústria, o encolhimento foi puxado pelos setores tido como tradicionais no Estado, como "preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados", "fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis" e "confecção de artigos de vestuário e acessórios".
Contudo, Witalo Paiva, analista de Políticas Públicas do Ipece, explicou que o resultado da indústria não é exatamente "preocupante", mas que a estagnação da produção era um fator que estava alertando o Ipece há alguns meses. "O que preocupa é a estagnação que esses números estão mostrando. A gente vê que a produção física do nosso Estado permaneceu praticamente inerte ao longo dos últimos trimestres, o que a gente entende é que a indústria, muito em resposta da demanda agregada não está conseguindo alavancar a produção", disse o analista do Ipece.
Além disso, Paiva afirmou que a indústria não deverá voltar a apresentar números consistentemente positivos até o segundo semestre desse ano, já que os resultados do setor estão relacionados à situação econômica do País. Com um alto número para a taxa de desemprego, o analista pondera que a demanda agregada da indústria está sendo impactada negativamente.
"Você tem uma economia marcada pelo desemprego muito alto, redução da massa salarial, uma crise fiscal nos estados que reduz a demanda agravada pelo gasto público e isso faz com que a demanda pare de produzir. A nossa indústria tem uma ligação muito forte com outros mercados nacionais, então a retomada passa pelo mercado de trabalho. A recuperação do crescimento da indústria deverá vir apenas no segundo semestre", disse o analista do Ipece.
Até 2016, segundo o Instituto, a indústria tinha participação no PIB de 19,20%, enquanto os serviços representavam mais de 76% e a agropecuária cearense apenas 4,70%.
Reorganização
Para Nicolino Trompieri, coordenador de Contas Regionais do Ipece, a economia brasileira e os empresários, por tabela, ainda estão muito condicionados ao resultado das negociações da reforma da Previdência. Com a União, atualmente, sem condições de investir em programas de desenvolvimento no País, e com o cenário de incerteza da atividade econômica, Trompieri disse acreditar que os investidores estão adotando posturas mais conservadoras sobre novos projetos no Brasil.
Contudo, as perspectivas para este ano, no Estado, ainda são positivas. Segundo Trompieri, sem a expectativa de uma nova greve dos caminhoneiros e com a previsão de bons resultados no setor da agropecuária, o Estado deverá apresentar um crescimento acima da média nacional.
"A gente tem uma perspectiva de crescimento um pouco maior que o Brasil em 2019 e parte disso é por conta da expectativa do nosso segundo trimestre. No ano passado, a greve do caminhoneiros causou um impacto negativo maior no Ceará que no Brasil, até porque ainda somos muito dependentes das fronteiras terrestres", analisou o coordenador do Ipece.
"Além disso estamos recuperando uma estrutura agrícola depois de vários anos de chuva, então estamos observando um crescimento da pecuária a partir da produção de leite. E esse setor tem uma ótima capacidade de transbordar resultados positivos para o comércio em cidades de todo o Estado", afirmou.
Mais uma vez os economistas do Ipece reduziram as expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto do Ceará. Dessa vez, o índice caiu para 1,34% para este ano. No fim de 2018, a estimativa era de 2,5%.
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