Sistema Verdes Mares teve acesso a ligações entre os suspeitos de integrar o esquema criminoso, interceptadas pela Justiça.
Por: Alex Albuquerque
Tratativas para ocultar uma motocicleta ilegal, receber dinheiro e liberar veículos apreendidos, além de extorsões.
A participação dos Policiais Militares do Batalhão da Polícia do Meio Ambiente (BPMA) em um esquema criminoso na Região Norte do Estado, desarticulado pela Operação Espanta Raposa. Nove servidores viraram réus, na Vara Única da Auditoria Militar da Comarca de Fortaleza, no fim de abril deste ano.
A participação dos Policiais Militares do Batalhão da Polícia do Meio Ambiente (BPMA) em um esquema criminoso na Região Norte do Estado, desarticulado pela Operação Espanta Raposa. Nove servidores viraram réus, na Vara Única da Auditoria Militar da Comarca de Fortaleza, no fim de abril deste ano.
Em uma das conversas interceptadas por decisão judicial, o tenente-coronel Paulo de Tasso Marques de Paiva, comandante do BPMA na Região, revela a um homem não identificado, no dia 28 de janeiro último, que pressionou outro homem para pagá-lo R$ 1 mil semanal, com ameaças. Eles riem da situação e, na sequência, combinam de irem cobrar de outra pessoa nos próximos dias.
O oficial aparece em outra ligação, na qual é objetivo e cobra uma "comissão" para pagar uma "conta de luz". Um homem, também não identificado, responde apenas "beleza", e eles se despedem, em 7 de fevereiro deste ano. Conforme a investigação do Ministério Público do Ceará (MPCE), a quadrilha formada dentro da Polícia Militar do Ceará (PMCE) extorquia principalmente empresários e comerciantes da Região Norte, com exigências que variavam de R$ 50 a R$ 20 mil e ameaças de apreensão de material, prisão e até assassinato.
O esquema criminoso fica claro em uma conversa entre o sargento Jorge Luís Sousa e o seu filho (que não será identificado), no dia 20 de dezembro de 2018. O PM pede para o jovem ir a um galpão de um português, em Tianguá, para solicitar que o empresário ligue para ele e para pegar um "radem" - que, em ciganês, significa dinheiro. Dois policiais militares têm esposas de origem cigana e aprenderam alguns termos da língua para disfarçarem os crimes. Na ligação seguinte, o filho confirma ao pai que recebeu R$ 800.
O sargento Sousa, como é conhecido, também é suspeito de participar da ocultação de uma motocicleta irregular. Em uma ligação telefônica, um homem não identificado afirma que está na dúvida do que fazer com o veículo: "Eu fiquei pensando que uma hora dava errado, rapaz, embolava muita gente. Eu pensei noutra coisa aqui, aí se não der certo, é que nós vamos apelar". Então, o PM sugere: "Manda ele jogar essa bicha no rio, macho". O suposto comparsa acata a sugestão e diz que irá "desmontar" o material antes.
Liberações
Outras ligações interceptadas com autorização judicial revelaram um hábito do sargento Marcelo Cristiano de Melo de liberar suspeitos e materiais que eram abordados pelo Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual (BPRE), onde ele trabalhava antes de ir para o BPMA. No dia 23 de janeiro deste ano, o sargento Melo ligou para dois amigos de farda para pedir a liberação de um veículo que estava com fumê mais escuro que o permitido e com débitos, apreendido pelo BPRE em Caucaia.
Durante a abordagem, o dono do veículo, um empresário de uma banda de forró, argumentou: "Eu sou amigo do Melo". "Não, pois beleza, tenha calma, eu conheço ele, conheço o Melo, você não. Vá 'simbora'", respondeu o PM. Então, o veículo e o proprietário foram liberados.
O militar entrou em ação de novo em 8 de fevereiro último. Após o pedido de um empresário do ramo de carnes, o agente de segurança contatou os colegas de profissão para conseguir a liberação de um motorista de um caminhão da empresa, que estava sem habilitação, em Granja. "É para levar ele preso pra Delegacia, como é?", chegou a perguntar um policial. "Pra liberar o homi, rapaz!", rebateu o sargento Melo, com risos. Segundo a denúncia, o servidor praticou o crime de patrocínio indébito.
Corrupção
A quadrilha também é suspeita de cometer corrupção passiva. Em um dos casos, o sargento Raimundo Nonato Cruz combina com um empresário, em uma ligação realizada no dia 7 de janeiro deste ano, como será o esquema de segurança, realizado por PMs, em uma festa particular. As partes combinam que dois policiais irão ficar a pé, pelo preço de R$ 300 cada, e outros três agentes de serviço irão passar pelo local algumas vezes, na viatura, o que irá custar R$ 150 cada.
Além dos policiais citados, também são réus no processo o major Francisco Marcelo Nantuã Beserra, os sargentos Reginaldo Bento de Araújo, Antônio Barbosa Filho e Décio Alves Fernandes e o soldado Pablo Weslly Cavalcante de Sousa (filho do sargento Sousa). Os advogados de defesa dos PMs não quiseram se posicionar sobre o caso ou não atenderam às ligações.
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