Século de existência como um lugar marcado pelas lutas de seus moradores por melhorias e pelas lendas populares que permanecem vivas no imaginário “Ze Waltense”
Por: Alex Albuquerque
Protagonista de uma fama inusitada e cenário de histórias folclóricas, o bairro Prefeito José Walter chega aos 50 anos de existência. O lugar que ficou conhecido em Fortaleza como o “Bairro dos Cornos” nasceu durante a ditadura militar e é construído pelas memórias de moradores que reivindicaram melhorias para o local e até hoje perpetuam o legado “zewaltense”, irreverente e bem-humorado.
Aos 92 anos, o homem que deu nome ao bairro mantém vivas as lembranças dos primórdios do lugar. O ex-prefeito José Walter Barbosa Cavalcante relembra bem que a ideia de construir as 4.424 casas do maior conjunto habitacional da América Latina daquele tempo foi vista como “uma loucura” por alguns.
O conjunto é organizado em quatro etapas e possui área de 13,07 km² hoje. A primeira etapa foi inaugurada no dia 20 de março de 1970. As avenidas são ordenadas por letras e as ruas numeradas, sendo as pares na horizontal e as ímpares na vertical. Em 2010, o bairro contabilizava 33.427 habitantes, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Moradora do José Walter, a historiadora Marise Magalhães fez do lugar onde nasceu tema de suas investigações acadêmicas na dissertação A Sétima Cidade: Trajetórias e experiências dos primeiros moradores do Conjunto Habitacional Prefeito José Walter. “O bairro sempre foi meu objeto de pesquisa por percebê-locomo um lugar diferenciado na Cidade. Todos os moradores se conheciam de longa data e pareciam ter construído laços sólidos com o passar dos anos”, observa.
No início da sua história, o José Walter era conhecido por ser distante do resto da Cidade, o que se devia à precariedade de acesso ao transporte público no local, que contava com apenas uma linha de ônibus.
A dona de casa Valdênia Maia, 70, chegou ao bairro em 1971 e acrescenta que outra dificuldade estava em conseguir água potável. “Era muita dificuldade, não tinha água. Eu saía daqui para pegar água com a minha filha na avenida N (a 1,2 km de onde mora)”, diz. Ela aponta que muitos avanços ocorreram onde mora, porém áreas como a segurança mereciam uma melhor atenção do poder público.
O professor Pedro Jorge Pinheiro Alves, 77, é morador da rua 41, no José Walter, desde a sua fundação e também viveu aqueles dias. Enquanto exibe orgulhoso parte do acervo histórico que reuniu sobre o bairro ao longo dos anos, Pedro Jorge faz questão de citar nomes de outros moradores que, ao seu lado, lutaram para conquistar melhores condições para o local.
Como bom guardião da memória do José Walter, ele preserva com cuidado uma série de matérias de jornais, fotografias e até publicações organizadas por iniciativas própria como O Zé, uma espécie de jornal do bairro. O professor não pensa duas vezes quando questionado sobre seu maior desejo no aniversário de meio século do bairro. “Que essa juventude firme o patrimônio social do Zé Walter, que não deixem esquecer de mim e daqueles que iniciaram tudo aqui.
Eu não sou o único, tem muita gente que lutou por um bairro melhor”, finaliza.
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