Mulher e o marido gravaram conversa onde ele faz a cobrança. Profissional diz que 'não houve colocação no sentido de ilegalidade'.
O médico Ricardo Chauvet, de Corumbá, a 415 quilômetros de Campo Grande, é suspeito de cobrar R$ 1 mil para fazer cirurgia de retirada de um pólipo do útero pelo SUS. A paciente, de 26 anos, e o marido gravaram conversa com ele e registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil. O casal não chegou a fazer o pagamento. O profissional diz que não houve ilegalidade e que aguarda as citações jurídicas.
De acordo o boletim de ocorrência, a paciente deu entrada na maternidade da Santa Casa de Corumbá no dia 23 de abril, dizendo estar com dores e sangramento no útero. Lá, o médico, depois de dizer que ela estava com "frescura", afirmou que seria preciso uma operação para retirada de um pólipo e que cobraria pelo procedimento.
"Aí, foi quando ele começou com uma história de que o SUS pagava muito pouco para ele. [...] E que, se ele me pagasse esse mesmo valor, eu iria fazer faxina na casa dele. Eu fiquei, assim, perplexa com essa história", conta a jovem, que prefere não se identificar.
Já internada pelo SUS, a paciente disse que ficou sem reação e que, após a chegada do marido, foi com ele até o consultório do médico, no próprio hospital, onde gravaram a conversa. No áudio, a declaração atribuída ao obstetra diz:
"Eu não faço pelo SUS, tá? Por motivo simples. O SUS paga R$ 24 pra fazer isso. Eu não vou botar a mão no útero de mulher desse tamanho com cinco cesáreas anteriores por R$ 24". O interlocutor altera a voz quando fala sobre a característica física da paciente.
Veja ao final da reportagem a gravação de áudio contendo a conversa
A conversa continua: "...eu posso manter ela com a cirurgia pelo SUS e a gente faz acerto à parte. Em dinheiro, sem recibo e antecipado, tá? [...] Eu posso tentar te ajudar. Isso te custaria mil reais, tá? [...] Só que isso é ilegal, tá? Mas eu tenho duas opções: ou o ilegal ou eu não faço".
Após a conversa com o médico, a jovem fugiu do hospital, tentou registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil, mas, segundo ela, o investigador que a atendeu afirmou que não havia crime na situação relatada. O registro policial só foi feito dia 9 de julho, na Delegacia de Atendimento à Mulher, e pelo crime de corrupção passiva.
A TV Morena procurou pelo médico no hospital no horário em que ele deveria estar trabalhando, no entanto, ele não estava. Por telefone e sem saber que estava sendo gravado, afirmou ter conversado com a paciente, mas negou o conteúdo.
"...não conheço esse áudio. Mas eu sei exatamente o que foi dito lá dentro e não houve nenhuma colocação nesse sentido de ilegalidade", disse Ricardo.
Ministério da Saúde
Sobre o caso, o Ministério da Saúde disse em nota que a gestão do SUS é tripartite, cabendo à União as diretrizes das políticas de saúde e aos estados e municípios a execução dos serviços, bem como a responsabilidade de toda a organização da Rede de Assistência à Saúde. "O Ministério não é responsável pela contratualização de médicos e servidores, e sim, os gestores locais", diz a nota.
Estado e Município:
A Secretaria Estadual de Saúde disse que tomou conhecimento do caso por meio da TV Morena e ressalta que repudia tal atitude médica.
A Secretaria de Saúde de Corumbá disse que vai acompanhar a investigação que será feita pelo hospital/maternidade.
Hospital:
A direção da Santa Casa informou que aguarda o posicionamento técnico para que defina quais medidas deverão ser adotadas diante do fato, colocando-se à disposição da Justiça para auxiliar no que for necessário.
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