Collor (sentado, à esq.) e Humberto Costa, liderança do PT, integrarão o mesmo bloco no Senado
Tentando evitar um processo de isolamento no Congresso depois da derrota na corrida presidencial, o Partido dos Trabalhadores formalizou bloco no Senado com o Partido Republicano da Ordem Social (Pros) e seus três representantes nesta legislatura (2019-2023) – entre eles o senador Fernando Collor (AL), que chega à sua oitava legenda em 40 anos de vida pública. Legenda reconhecida pela Justiça Eleitoral apenas em setembro de 2013, o Pros apoiou a candidatura do presidenciável petista Fernando Haddad e esta foi uma das principais razões apontadas para a formação do bloco.
Com a composição, o denominado "Bloco Parlamentar da Resistência Democrática" começa o ano legislativo com nove nomes, seis do PT e três do Pros. Além do apoio eleitoral, teve peso na disputa uma questão envolvendo a senadora Zenaide Maia (Pros-RN) – que foi escolhida como vice-líder do bloco e tem histórico de aliança com os petistas (leia mais abaixo) –, além da óbvia busca por ampliação de espaços no Legislativo federal.
Mas lideranças ouvidas pelo Congresso em Foco garantem: o agrupamento é meramente político e administrativo, de forma que a formação do bloco não significa alinhamento ideológico. "Inclusive, no Senado, os blocos têm mais a ver com questões administrativas e políticas do que propriamente com questões ideológicas. A formação dos blocos permite a formação dos espaços em comissões temporárias, permite a ocupação de algumas possibilidades", ponderou o líder do bloco, Humberto Costa (PT-PE).
Opinião semelhante tem o líder do Pros no Senado, Telmário Mota (RR). Iniciando a segunda parte de seu primeiro mandato, Telmário disse à reportagem que a aliança PT-Pros é "sem compromisso ideológico". "É uma relação só de bloco, nada mais do que isso. Cada um prossegue o seu caminho, sem um falar sobre o outro. Cada um segue seu destino", declarou o senador, sintetizando a natureza do agrupamento partidário.
A parlamentar potiguar Zenaide Maia teve participação crucial na formação do bloco PT/Pros
Telmário explicou ao site o que, de fato, pesou na hora de decidir ir para a composição. "Tínhamos três [senadores], e um dos nossos, a senadora Zenaide, tem um vínculo muito forte com o PT. E, como o PT foi isolado pelos demais partidos, ele ia ficar sem bloco. Então, ela [Zenaide] foi a gota d'água. Se não fizéssemos o bloco, corríamos o risco de perdê-la. E, se a perdêssemos, teríamos o prejuízo de perder direito a liderança [estrutura de poder no Senado]. Como ela tinha esse compromisso com o PT, de lutar por essa composição, tivemos de fazê-la", acrescentou o líder.
Na condição de ex-presidente da República, Collor foi uma das autoridades convidadas pelo Planalto e pelo Itamaraty a participar do almoço oferecido em 16 de janeiro ao presidente da Argentina, Maurício Macri. Bolsonaro também fez deferência à presença de Collor na transmissão de cargo do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no início daquele mês.
Para Humberto Costa, nem a imagem negativa de Collor junto à opinião púbica nem o namoro entre ele e Bolsonaro são problema no contexto do bloco. "Nós já fizemos parte de blocos em que Collor fazia parte. Não lembro se foi quando ele estava no PTB... Fizemos parte de blocos com outras pessoas que têm perfil mais conservador, porque os blocos acontecem muito em função dessa ocupação de espaços políticos dentro do Congresso. Nenhum partido perde a sua identidade própria. Continua a ter seu líder, a sua política, a determinar seus votos", acrescentou Humberto Costa.
Congresso Em Foco
Por: Alex Albuquerque
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